terça-feira, 30 de novembro de 2010

CARTA DE UMA JOVEM AO MORRER

Fui à festa, mãe. Fui à festa, e lembrei-me do que me disseste. Pediste-me que eu não bebesse álcool, mãe... Então, bebi uma 'Sprite'. Senti orgulho de mim mesma, exactamente o modo como me disseste que eu me sentiria. E que não deveria beber e de seguida conduzir.
Ao contrário do que alguns amigos me disseram. Fiz uma escolha saudável, e o teu conselho foi correcto.
Quando a festa finalmente acabou e o pessoal começou a conduzir sem condições, fui para o meu carro, na certeza de que iria para casa em paz...
Eu nunca poderia esperar... Agora estou deitada na rua e ouvi o policia dizer: 'O rapaz que causou este acidente estava bêbado'. Mãe, a voz parecia tão distante...
O meu sangue está por todo o lado e eu estou a tentar com todas as minhas forças não chorar... Posso ouvir os paramédicos dizerem: 'A rapariga vai morrer'...
Tenho a certeza de que o rapaz não tinha a menor ideia, enquanto ele estava a toda velocidade, afinal, ele decidiu beber e conduzir!! E agora eu tenho que morrer. Então... Porque é que as pessoas fazem isso, mãe? Sabendo que isto vai arruinar vidas?
A dor está a cortar-me como uma centena de facas afiadas. Diz à minha irmã para não ficar assustada, mãe, diz ao pai que ele tem que ser forte.
Quando eu partir, escreva 'Menina do Pai' na minha sepultura...
Alguém deveria ter dito àquele rapaz que é errado beber e conduzir. Talvez, se os pais dele o tivessem avisado, eu ainda estivesse viva...
Minha respiração está a ficar mais fraca mãe, e estou a ficar realmente com medo. Estes são os meus momentos finais e sinto-me tão desesperada...
Gostaria que tu pudesses abraçar-me mãe, enquanto estou aqui esticada a morrer, gostaria de poder dizer que te amo mãe...
Então... Amo-te
Adeus...'
________________________________________
Estas palavras foram escritas por um repórter que presenciou o acidente. A jovem, enquanto agonizava, ia dizendo as palavras que o jornalista Antonio Carlos Ponsi Portela anotou e redigiu esta carta em 2003.

Coração de Gelo









Choviscou uma ilusão,
Choveu no meu coração
Chuvada de encharcar a alma
Chuva diluviana roubando a calma....................

Bate meu coração, bate!
Vive meu amor, vive!
Resiste meu ser, resiste!
Não pares, não... pares, n...ã...o... p...a...r........

Gelado e adormecido
Congelado e esquecido,
Enregelado sem gente
Gelo onde floresceu amor ardente......................

Pista de patinagem
Aberta à miragem
Venham venham
Patinar rodopiar riscar magoar matar..................

Carlos Richter_30NOV2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CARTA DE ABRAHAM LINCOLN...


...AO PROFESSOR DO SEU FILHO

«Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, por cada vilão há um herói, que por cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que por cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.
Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando esta triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.
Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja que pode fazer, caro professor.»

Abraham Lincoln, 1830

domingo, 28 de novembro de 2010

...like tears in rain


I've seen things
you people wouldn't believe.
(...) All those moments will be lost in time,
like tears in the rain.
Time to die.

http://www.youtube.com/watch?v=ZTzA_xesrL8&feature=related

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Boulevard of Broken Dreams

I walk a lonely road
The only one that I have ever known
Don't know where it goes
But it's home to me and I walk alone
I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
and I'm the only one and I walk alone
I walk alone I walk alone I walk alone
I walk a...
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone
I'm walking down the line
That divides me somewhere in my mind
On the border line
Of the edge and where I walk alone
Read between the lines
What's fucked up and everything's alright
Check my vital signs
To know I'm still alive and I walk alone
I walk alone I walk alone I walk alone
I walk a...
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone I walk alone I walk a...
I walk this empty street
On the Boulevard of Broken Dreams
Where the city sleeps
And I'm the only one and I walk a...
My shadow's the only one that walks beside me
My shallow heart's the only thing that's beating
Sometimes I wish someone out there will find me
'Til then I walk alone...

GREEN DAY
https://www.youtube.com/watch?v=4kpHmtA7LOk

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

LA BELLA GITANA ENCANTADA












En medio de una cancion que llora,
La bella gitana baila com emocion...
Envuelta en el mistério de su tristeza
Sus ojos... huecos de eterna belleza
Que encantan, hechizan en su antro.
Su cuerpo se mueve con melancolia,
Bajo los lamentos de la triste melodia
Encajando-se a su cuerpo, seduzindo
Tu corazon... con la promesa sedianta
De la rosa roja que, en su pelo lleva...
Yo apaño com mi boca la rosa roja
Y entrelazo mi brazos em tu cintura
Y te acerco hacia ella com mi boca.
Te levanto y te traigo hacia mis brazos,
Encuanto enlazas mi nuca y con ternura,
Asi te llevo para el cuarto...mi espacio...
Di amor!
(Marisa Dinis)

Fotografia de Sutra Su in www.contossecretos.com

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Desejo-te


Apreciavas uma montra Women’s Secret quando te surpreendi por trás. Coloquei as minhas mãos levemente nos teus olhos. Nada disse. Tu também não. Esboças-te um longo sorriso e deixaste escapar um som de surpresa. “Quem é?”, pensaste. Tocaste-me nos dedos vazios. Por aí não me podias identificar com certeza. Quem?... Tu? Ou… tu? Ou então… você? Três nomes e três rostos ondularam na tua mente.

Continuaste a acariciar os dedos e as mãos, como se as lesses. “Mãos que escrevem”, pensaste. “Mãos que me querem”. Podias ter procurado outras pistas, mas isso seria outro jogo. Querias entrar neste que eu te propunha. Só as mãos, como se eu te quisesse soprar “Deixa-me guiar-te”.

Com os polegares massajei as tuas têmporas ao de leve em círculos pequenos. O gesto expandiu-se para as pálpebras. Só os polegares e os indicadores se moviam. Deixaste-te ir para o seguinte nível do jogo. Já não me tocavas as mãos. Estendendo os braços procuras-te as minhas ancas encaixando os polegares nos meus bolsos, puxando-me ligeiramente para ti.

Afastei o teu cabelo para aceder ao teu ouvido. “Dá-te a mim… Deixa-me guiar-te… São dois minutos… Não abras os olhos, até eu ir”. Mordi ligeiramente o lóbulo da orelha. A minha boca desceu suave pelo teu pescoço e voltou a subir, alternando o toque com os lábios e a língua ou com ambos. Simulei uma dentada. Estremeces-te.
(continua)

Carlos Richter_22NOV2010

A Poem for Sunshine


(drafted on a tea bag paper)

I saw us sitting on a porch
...with a view to the sea;
...the winter waves were wild,
but we were calm;
the full moon lightned the hole yard
as we were tangled on a cuddly blanket;
you were humming caribean melodies
as i reharsed a lewd poem;
we whispered at ones ears
not only cause of the sparkling sea noise...
meanwhile, we had extra hot tea and flyffy orange cake.

C. Richter
22_NOV_2010, 01:48 PM

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lindos


São castanhos e afáveis
Safiras e zircónias
Brilhantes e luminosos,


São de mel os olhos teus, seus
whatever!


Dourados e penetrantes
Sorridentes e risonhos
Ternos e doces


São de mel os olhos teus, seus
whatever!


São candidos e vigorosos,
Enigmáticos e transparentes
Sensuais e Amorosos


São lindos os olhos teus, seus,
Whatever!


Carlos Richter 18_NOV_2010

CAÇA AO LOBO

Não se fala de outra coisa na parvónia: os lancinantes uivos que preencheram a noite. O director do pasquim jurou na tasca que vai imprimir em letras garrafais: “Lobisomens voltam a atacar”. Desta vez não será sensacionalista! Aqueles gritos fantasmagóricos fizeram estarrecer as crianças e tremer os adultos. Há muitas luas-anos que não se ouviam os uivos dilacerantes da pobre besta. “Vem da casa abandonada! Vamos todos, vamos!” Abriu a caça ao lobo. Magotes de homens sedentos de sangue e de vingança cega acorreram com archotes, lanternas, caçadeiras e espingardas. Abriu a caça ao lobo. O comandante da Guarda juntou-se aos desordeiros. Abriu a caça ao lobo. Triste ser enraivecido que nem animal será. Abriu a caça ao lobo. Os animais não se abatem a si próprios. Abriu a caça ao lobo. Os cães a ganir de medo farejam o ar e partem em debandada. Junto da casa a horda de injustíssimos vigilantes era já reduzida. Fechou a caça ao lobo. Um opel manta a dar quanto tinha saiu disparado das traseiras do velho casario. Borracha queimada e benzina esfumada poluíram as fuças dos trastes perseguidores. Estava aberta a caça ao lobo. Balas cruzaram os céus. Em vão. Os uivos ouviam-se agora ao longe. Fechou a caça ao lobo. Para a cidade foi o lobo, sossegar-se.

C. Richter_ 18_11_2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A MARCA DO AMOR

Um menino tinha uma cicatriz no rosto,as pessoas de seu colégio não falavam com ele e nem sentavam ao seu lado, narealidade quando os colegas de seu colégio o viam franziam a testa devido àcicatriz ser muito feia.Então a turma se reuniu com o professor e foi sugerido que aquele menino dacicatriz não freqüentasse mais o colégio, o professor levou o caso àdiretoria do colégio.A diretoria ouviu e chegou à seguinte conclusão:Que não poderia tirar o menino do colégio, e que conversaria com o menino eele seria o ultimo a entrar em sala de aula, e o primeiro a sair, destaforma nenhum aluno via o rosto do menino, a não ser que olhassem para trás.O professor achou magnífica a idéia da diretoria, sabia que os alunos nãoolhariam mais para trás.Levado ao conhecimento do menino da decisão ele prontamente aceitou aimposição do colégio, com uma condição:Que ele compareceria na frente dos alunos em sala de aula, para dizer o porquê daquela CICATRIZ.A turma concordou,e no dia o menino entrou em sala dirigiu-se a frente da sala de aula ecomeçou a relatar:- Sabe turma eu entendo vocês, na realidade esta cicatriz é muito feia, mas foi assim que eu a adquiri:- Minha mãe era muito pobre e para ajudar na alimentação de casa minha mãepassava roupa para fora, eu tinha por volta de 7 a 8 anos de idade...A turma estava em silencio atenta a tudo .O menino continuou: além de mim, haviam mais 3 irmãozinhos, um de 4 anos,outro de 2 anos e uma irmãzinha com apenas alguns dias de vida.Silêncio total em sala.-... Foi aí que não sei como,a nossa casa que era muito simples, feita de madeira começou a pegar fogo,minha mãe correu até o quarto em que estávamos pegou meu irmãozinho de 2anos no colo, eu e meu outro irmão pelas mãos e nos levou para fora, haviamuita fumaça, as paredes que eram de madeira, pegavam fogo e estava muitoquente...Minha mãe colocou-me sentado no chão do lado de fora e disse-me para ficarcom eles até ela voltar, pois minha mãe tinha que voltar para pegar minhairmãzinha que continuava lá dentro da casa em chama.Só que quando minha mãe tentou entrar na casa em chamas as pessoas queestavam ali, não deixaram minha mãe buscar minha irmãzinha, eu via minha mãegritar:- " Minha filhinha está lá dentro!"Vi no rosto de minha mãe o desespero, o horror e ela gritava, mas aquelaspessoas não deixaram minha mãe buscar minha irmãzinha...Foi aí que decidi.Peguei meu irmão de 2 anos que estava em meu colo e o coloquei no colo domeu irmãozinho de 4 anos e disse-lhe que não saísse dali até eu voltar.Saí de entre as pessoas, sem ser notado e quando perceberam eu já tinhaentrado na casa.Havia muita fumaça, estava muito quente, mas eu tinha que pegar minhairmãzinha.Eu sabia o quarto em que ela estava.Quando cheguei lá ela estava enrolada em um lençol e chorava muito...Neste momento vi caindo alguma coisa,então me joguei em cima dela para protegê-la, e aquela coisa quenteencostou-se em meu rosto...A turma estava quieta atenta ao menino e envergonhada então o meninocontinuou:Vocês podem achar esta CICATRIZ feia, mas tem alguém lá em casa que achalinda e todo dia quando chego em casa, ela, a minha irmãzinha me beijaporque sabe que é marca de AMOR.Vários alunos choravam,sem saberem o que dizerem ou fazerem,mas o menino foi para o fundo da classe e imovelmente sentou-se.»

DESCONHEÇO A AUTORIA DESTE TEXTO. ENCONTREI-O EM
http://www.facebook.com/?sk=2347471856#!/note.php?note_id=454984640828

NÃO, NÃO DIGAS NADA


NÃO ESCREVO.
LEVASTE A MINHA ESCRITA.
E COM ISSO LEVASTE ALGUÉM
QUEM NUNCA ESTEVE AQUI: TU.
LEVASTE TUDO.
NÃO DEVOLVAS.
NÃO VOLTES.
NÃO SABES O CAMINHO.
NUNCA ESTIVESTE AQUI.
FUI EU QUE ESTIVE AÍ.
FOSTE.
ADEUS.
NÃO, NÃO DIGAS NADA,
SUPOR O QUE DIRÁ A TUA BOCA VELADA
É OUVI-LO JÁ,
É OUVI-LO MELHOR
DO QUE O DIRIAS;
O QUE ÉS NÃO VEM À FLOR
DAS FRASES E DOS DIAS
ÉS MELHOR DO QUE TU
NÃO DIGAS NADA, SÊ
GRAÇA NO CORPO NÚ
QUE INVISÍVEL SE VÊ
NÃO, NÃO DIGAS NADA.

Carlos Richter e Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Wendy e Mr Peterson


Ela tinha seis anos e conhecia numa praia perto de onde eu vivo. Quando entro em depressão vou até essa praia, que fica a 3 ou quatro milhas da minha casa. Ela estava a construir um castelo ou algo parecido, na areia. Tinha olhos azuis como o mar. “Olá”, disse ela. Eu respondi sem grande interesse em manter conversa nem reparando verdadeiramente nela.
“Estou a construir na areia”, disse ela. “Sim... e o que é?”, perguntei eu, fastidioso. “Não sei... só sei que gosto de mexer na areia”.
Sentir a areia era bom, de facto. Descalcei os sapatos e chapinhei os pés na areia.
Uma andorinha aterrou ali perto.
"Ele é sinal de alegria" disse a criança apontando para o pássaro.
“É o quê?...”
"É uma alegria. A minha mãe diz que as andorinhas trazem alegria.
O pássaro foi descendo a praia, cantarolando uma melodia. “Adeus alegria”, murmurei eu para mim mesmo, “olá sofrimento”, e virei-me para seguir caminho. Eu estava mesmo em depressão. A minha vida parecia desequilibrada e descontrolada.
“Como se chama?”, perguntou a menina.
"Robert," respondi, "Robert Peterson."
"Eu chamo-me Wendy... Tenho seis anos."
"Olá, Wendy."
Ela gracejou "Você é engraçado!”.
Apesar do meu mau humor consegui sorrir, mas continuei a caminhar. Ela ficou onde estava, a cantarolar.
"Volte sempre, Mr. P," disse ela. "Voltaremos a ter outro dia de alegria”.
Depois de um dia terrível no trabalho cheguei a casa e pensei que encontrar uma andorinha talvez me alegrasse. Ali fui, procurando serenidade e sossego. Lá estava novamente a Wendy.
"Olá, Mr. P," cumprimentou ela. "Quer jogar?"
"Que jogo?" perguntei.
"Não sei. Escolha você."
"Pode ser charadas?" perguntei sarcasticamente..
“Eu não sei o que isso é”
“Então vamos só andar na areia”, disse eu.
Olhando atentamente para ela reparei na delicadeza da sua pele e de como esta criança parecia frágil. "Onde moras?", perguntei.
"Ali adiante". Ela apontou para uma casa de praia ali perto. Estranho, pensei eu, viver ali no Inverno... "Onde é a tua escola?”, questionei.
"Eu não vou à escola. A minha mãe disse que estamos de férias”, respondeu.
Ela foi falando, na maior parte do tempo coisas de criança, criancices. Na maior parte do tempo eu não estava com o pensamento ali, mas nos assuntos que me atormentavam e obcecavam. Quando nos despedimos, Wendy disse que tinha sido mais um dia de alegria.
Sentindo-me surpreendentemente melhor, eu concordei e disse que sim.
Três semanas depois eu corri para aquela praia em estado de quase pânico. Eu não estava nem sequer com vontade de cumprimentar a pequena Wendy. Queria estar sozinho, mais nada. Pareceu-me ter visto uma senhora no alpendre da casa de Wendy. Seria a sua mãe. A pequena apareceu de uma duna da praia. “Olha, se não te importas, hoje prefiro estar sozinho”, disse-lhe eu, de forma áspera e seca. Reparei que ela estava mais pálida e frágil que nunca. "Porquê?" perguntou ela.
Eu virei-me na sua direcção e respondi abruptamente: "Porque a minha mãe morreu!”.
Meu Deus, porque estava eu a dizer aquilo à criança?
"Oh," murmurou ela, "então hoje é um dia mau..."
"Sim," disparei eu, "e ontem, e antes de ontem e o dia anterior... Hei, deixa-me sozinho!" E desatei a correr para bem longe dela.
Cerca de um mês depois disso, ainda me sentindo culpado e envergonhado pela minha atitude para com aquela criança, fui até à praia. Tinha vindo a admitir que sentia a falta daquela inocente e afável criança. Nesse dia ela não estava na praia. Dirigi-me à casa dela. Uma senhora jovem abriu-me a porta. “Olá, sou Robert Peterson. Notei a ausência da sua filha e pensei vir perguntar por ela”.
"Oh, o senhor é o Mr. Peterson, entre, por favor. A Wendy falou muito de si. Peço desculpa se permiti que ela o chateasse. Se ela o incomodou, por favor aceite as minhas desculpas.
"Não, de maneira nenhuma, ela é uma criança encantadora", disse eu, surpreendido pelo facto de realmente pensar aquilo.
"Wendy morreu na semana passada, Mr. Peterson. Ela tinha leucemia. Talvez ela não lhe tenha dito...”
Fiquei atónito e perplexo, e senti um calafrio horrível.
"Ela adorava esta praia. Quando ela disse que queria vir para cá, não lhe podíamos dizer que não. Ela parecia melhorar muito aqui e tinha o que ela dizia serem dias felizes. Mas... nas últimas semanas ela desfaleceu muito..."
A sua voz foi-se engasgando. Depois dos soluços, calou-se. De seguida levantou-se dizendo: “Ela deixou algo para si. Vou buscar”.
Eu estava literalmente aparvalhado, paralisado. Não conseguia dizer o que quer que fosse. Sentia um nó na garganta e outro no estômago...
Ela entregou-me um envelope onde estava escrito simplesmente "MR. P" em caligrafia de criança. Dentro estava um desenho colorido, feito com lápis – uma praia amarela, um mar azul, e um pássaro branco. Em baixo estava uma frase: “A SANDPIPER TO BRING YOU JOY” (uma andorinha para lhe trazer alegria).
As lágrimas soltaram-se desmesuradamente pela minha cara e o meu coração falou depois de tanto tempo esquecido de amar. “Desculpe! Desculpe! Sinto tanto, tanto...”, repliquei eu, vezes sem conta àquela senhora em frente de mim, que me abraçou naquela angústia e desespero. Chorámos até nos despedirmos.
O desenho está emoldurado num quadro no meu gabinete. Nele estão aquelas seis palavras, uma para cada ano de vida que aquela criança teve. Uma criança que, na sua linguagem, me falou de harmonia, coragem e amor incondicional. Uma criança com olhos azuis como o mar e cabelo cor da areia, que me ensinou a dádiva do amor.

[tradução de um original de Robert Peterson, publicado em Morning Musings, de Virginia Santoro, de 19 de Fevereiro de 2004]

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Olá Ticha,


já deves saber que a Nina foi ao casting e ficou em último. Chorou como uma desalmada, coitada

derreteu-se-me o coração antes de lhe poder animar o espírito

e fomos beber para esquecer, mas acabamos por recordar animados. Mais ela. Já sabes que não bebo.

Foi no Bairro Alto. Vimos a Ana Moura mas não a ouvimos. Ouvir ouvimos. Ia ao telemóvel. Com o meu apanhei-a, com a Nina de cabeça encostada à dela.

Nunca ri tanto em Lisboa.

Não mando cumprimentos ao Tó. Diz-lhe que hei-de ir aí quando ele não estiver.

Não digas nada. Ou diz. Faz como quiseres. Tu sempre quiseste.

Saudades,

Litos

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Já sei, girassol


Já sei como te sorri,
Sem eu te conhecer…

Já sei onde te conheci,
Sem lá teres estado…

Já sei onde te falei,
Sem me teres ouvido…

Já sei onde te chamei,
Sem ter dito o teu nome…

Já sei onde te beijei,
Sem te ter tocado…

Já sei onde te perdi,
Sem te ter tido…

Já sei porque te chorei,
Sem me teres magoado…

Sei, porque já amei antes
E o amar era assim!...

O seu nome era Nzary
E ela chamava-me Gadjó…


Zé_25 Outubro 2010

Sete de Copas