quarta-feira, 22 de abril de 2009

A lição d’Os Músicos de Bremen




A fabulosa obra dos alemães irmãos Grimm vai subir novamente ao palco do Auditório Municipal, num remake extraordinário d’A Jangada. Concebida no século XIX, Os Músicos de Bremen é uma peça com uma lição de vida para os nossos tempos. É uma bofetada de luva branca para aqueles que escorraçam os debilitados e os incapazes, e desprezam os indefesos e os idosos, remetendo entes queridos e vidas fatigadas para o esquecimento e para degredo.
Pequenos e graúdos apreciam esta encenação fabulada com a mesma intensidade e atenção. De facto, Os Músicos de Bremen na versão d’A Jangada é uma peça perfeita para a família, que é uma instituição cada vez mais enfraquecida pelas ânsias da ganância e pelas ganas do egoísmo.
Da encenação à cenografia e figurinos, passando pelo desenho de luz e pela produção, rasgados elogios podiam aqui ser lavrados acerca desta peça de teatro musical. Vou-me ficar pela abordagem à performance do quarteto de actores: Alberto Fernandes (o cão) transpira versatilidade e merece os parabéns pela magistral orquestração (a sequência de percussão com que a peça encerra é magistral); os consagrados Luiz Oliveira (o gato) e Patrícia Ferreira (o galo) são assombrosos; e por fim, o neófito Vítor Fernandes (o burro) é primoroso no seu papel e para ele se augura já uma carreira notável nas artes do palco.

Zé do Telhado, o Repartidor Público

CAMBATXILONDA, A ÚLTIMA MORADA

Por Manuel Esteves, «o Nosso Manel»

Para toda a Família 3485, em especial para o 2.º Grupo de Combate, com um agradecimento ao camarada e amigo Carlos Alberto Santos (médico), pelo empenho dedicado à Família 3485 (sem o seu empenho, nunca poderia ter o prazer de vos legar estas pobres palavras). À memória do Vinhas (enfermeiro), meu camarada de grupo e de caserna, há muito que partiu para a viagem sem regresso (onde estiveres, recebe o meu abraço).

Se algum dia eu te esquecer cambatxilonda
Que o castigo seja ver-te novamente
Nem que seja com um simples olhar
À distância de uma vida!...
E se por ventura ao lerem estas pequenas memórias
Sentirem no mais íntimo de vós algo de novo
Não tenhais medo de seguir o coração!...
Mesmo que ele vos leve pelo caminho das lágrimas!...

Foi num dia de sol do mês de Julho de 1973, que nos embrenhamos na picada que leva ao Cacolo e entre o Nandonge e a baixa do Cuilo, paramos para assentar arraiais na Nova Cambatxilonda, erigida no planalto que se eleva desde a linha de água (com fama de jacarés), e a parte sul da velha aldeia.
Feito o reconhecimento, e depois de dar as boas vindas à entidade oficial local, Soba-Mutambuleno, começaram os preparativos para instalar o segundo grupo de combate, filho de uma família fraterna e temerária, a quem um dia alguém ousou dizer: “ELES DIRÃO DE NÓS!” e disseram sem dúvida no fim da nossa missão, que foi nesta sanzala e noutras onde estiveram outros filhos da mesma família, que todos com espírito de sacrifício e empenho, souberam honrar a sigla que carregaram nos mais belos anos da sua juventude, e que por isso marcaram a diferença.
Mas, desviando-me desse trilho mais sentimental, direcciono as minhas memórias para a parte mais técnica, que consiste na montagem do acampamento.
Assim, feito o levantamento topográfico pelo grupo de comando, começamos a construção do edifício (caserna) que nos havia de albergar por alguns meses. O projecto desenvolvia-se em U, e a sua estrutura assentava em finos toros de madeira (matéria-prima que tínhamos à mão com abundância).
O alçado principal destinava-se ao maior número de pessoas, melhor dizendo “caserna”. O alçado lateral direito, visto do Torreão da água era a mansão dos graduados alferes e furriéis milicianos, e o alçado lateral esquerdo, visto do mesmo ângulo, era o posto de rádio, a enfermaria, e o repouso desses dois operadores. De referir que as paredes a tardoz de todos os alçados, compostas por paus, lianas e capim enlaçado, desenvolviam-se em empena cega (não existiam quaisquer tipos de vãos) por uma questão de segurança.
Mais tarde haveríamos de mudar de instalações para uma casa já construída no local e com projecto arrojado para aquela localidade. Tratava-se de um edifício, que segundo os rumores da época, seria para albergar a O.P.V.D.C.A.
O outro edifício existente e do mesmo naipe de construção, era a enfermaria que dava apoio à população local e à população do Nandonge.
Ora, acabado de vos mostrar o projecto fiel do local e já com as telas finais à vista, parto para o tema fulcral que nos levou ao Cambatxilonda: A PSICO.
Assim, as linhas orientadoras para esta missão, partiam, obviamente do topo da hierarquia do grupo, Alferes António Boavida (com a sua postura altiva e que de vez em quando mostrava o seu sentido de humor ao chamar ao Lopes de Terras do Bouro – o Bixarro), coadjuvado pelos dedicados seguidores Furriel Gonçalves, (moreno, sotaque algarvio e aquele jeito desajeitado que punha no andar e no correr), o Furriel Ferreirinha, (sotaque alfacinha, brincalhão e sempre com um ar de gingão) e o Furriel Oliveira, (pele clara, que carregava uma manta de cabelo ao peito e que esperava sempre com uma paciência paternal, para ser o último a usar o chuveiro e que era da terra do Rafael Bordalo Pinheiro). Era sem dúvida uma equipa de comando de excelência. Convosco aprendi a crescer.
Ora, formado o grupo para receber instruções e as distribuições de tarefas, ficou assim ordenado: o Silva, o Meirinhos e o Brás ficavam responsáveis pelas equipas que iriam chapear as palhotas da nova sanzala e outras tarefas afins. O Vinhas ficava com a tarefa de curar as maleitas, o Esteves, além de fazer o SITREP diário na área das transmissões, ficava com o pelouro do ensino e o Costa, atarracado e sempre de mal com o mundo, seria o cozinheiro, mais tarde substituído pelo cabo Brás.
Vivíamos os dias intensamente e com o fervor de quem tem vinte anos.
A escola absorvia-me boa parte do meu dia, mas ainda sobrava tempo para de vez em quando procurar refúgio para baixar a tensão numa pequena palhota (três passos ao quadrado), desgarrada e cravada na franja do talude que dava para Cambatxilonda antiga. Aí esperava-me o remédio para a hipertensão: mulher de cerca de trinta anos de idade, alta, magra, peitos já tombados pela idade e com o rosto que denotava tristeza. Ao lusco-fusco era a hora por mim marcada para o encontro e ao sentir-me por perto, a pobre mulher arrotava duas a três vezes e ao entrar na porta meia aberta, murmurava sempre as mesmas palavras “Chindelo Canapemexinge”. Depois, depois era África em todo o seu esplendor.
E se mais Leste houvesse mais se conquistava.
Ao desenterrar no Planalto do passado as minhas memórias, isto que hoje vos dou é uma simples amostra dos meus passos nessas paragens.
Preparai-vos. E como dizia o mestre das palavras Luís Vaz de Camões, numa das suas canções: “A Água do Mar em tão pequeno vaso”. Nem eu delicadezas vou contando com o gosto do louvor mas explicando puras verdade já por mim passadas. Um abraço do camarada – amigo e sempre leal, Manuel Esteves.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Sem eira nem beira, by Xutos & Pontapés

Anda tudo do avessoNesta rua que atravessoDão milhões a quem os temAos outros um passou - bemNão consigo perceberQuem é que nos quer tramarEnganarDespedirE ainda se ficam a rirEu quero acreditarQue esta merda vai mudarE espero vir a terUma vida bem melhorMas se eu nada fizerIsto nunca vai mudarConseguirEncontrarMais força para lutar...(Refrão)Senhor engenheiroDê-me um pouco de atençãoHá dez anos que estou presoHá trinta que sou ladrãoNão tenho eira nem beiraMas ainda consigo verQuem anda na roubalheiraE quem me anda a comerÉ difícil ser honestoÉ difícil de engolirQuem não tem nada vai presoQuem tem muito fica a rirAinda espero ver alguémAssumir que já andouA roubarA enganaro povo que acreditouConseguir encontrar mais força para lutarMais força para lutarConseguir encontrar mais força para lutarMais força para lutar...(Refrão)Senhor engenheiroDê-me um pouco de atençãoHá dez anos que estou presoHá trinta que sou ladrãoNão tenho eira nem beiraMas ainda consigo verQuem anda na roubalheiraE quem me anda a foderHá dez anos que estou presoHá trinta que sou ladrãoMas eu sou um homem honestoSó errei na profissão

Sete de Copas