Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam aotopo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheirospúblicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente facea um público acrítico, burro e embrutecido.Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 deAbril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construçãoeconómica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estesúltimos, em atitude de gratidão passaram a esconder as verdadeirasnotícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade pofissional, atroco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados agente carenciada mas mais honesta que estes bandalhos.Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como OVERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podresforjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser oVERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilhaos despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro eembrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia(que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte aoensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio derecreio dos mafiosos.A justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca- Clara Ferreira Alves - ExpressoPortugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moralmuito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português sepreocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, dosecretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Osportugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo
"normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugalalguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não sefala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, empermanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que,nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada édefinitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia,foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou aocaso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destashistórias, nem o que verdadeiramente se passou nem quem são oscriminosos ou quantos crimes houve.Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaçosde enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir deapurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final dahistória é uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde ascoisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda emditadura.E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar esteestado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, doscomputadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real aomaior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, eesperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos àsescutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente aocaso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao SportLisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, deFátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grandeempresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João
Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretosarquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabempor ser investigados, julgados e devidamente punidos?Vale e Azevedo pagou por todos.Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência deLeonor Beleza com o vírus da sida?Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogadonum parque aquático?Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério doscrimes imputados ao padre Frederico?Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padreFrederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cujacabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios eenrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível,alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou acondenar alguém?As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico dacriança, contribuindo para a confusão desta investigação em que aPolícia espalha rumores e indícios que não têm substância.E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas ascrianças desaparecida antes delas, quem as procurou?E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos,alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o queaconteceu?Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que elareconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol,milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu
e porquê?E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negóciosescuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é queisso pára?O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz,apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha paraa sua filha.E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de terassassinado doentes por negligência? Exerce medicina?E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes decolarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, ésurda, muda, coxa e marreca.Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos sãoarquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados aoesquecimento.Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quemeram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam eabusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, vistoque os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças ,de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências ereputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação daverdade.
Este é o maior fracasso da democracia portuguesa Clara Ferreira Alves - "Expresso"